Algumas
características do esporte na mídia
1. Ênfase
na “falação esportiva”. A falação esportiva (Eco, 1984) informa
e atualiza: quem ganhou, quem foi contratado ou vendido (e por quanto),
quem se contundiu, e até sobre aspectos da vida pessoal dos atletas. Conta a
história das partidas, das lutas, das corridas, dos campeonatos; uma
história que é sempre construída e reconstruída, pontuada pelos melhores
momentos - os gols, as ultrapassagens, os acidentes etc. cria expectativas:
quem será convocado para a seleção brasileira? A falação faz previsões:
qual será o placar, quem deverá vencer. Depois, explica e justifica: por
que tal equipe o atleta ganhou ou perdeu. A falação promete: emoções,
vitórias, gols, medalhas. Cria polêmicas e constrói rivalidades: foi
impedimento ou não? A falação critica: "fala mal" dos
árbitros, dos dirigentes, da violência. A falação elege ídolos: o
"gênio", o craque fora de série. Por fim, sempre que possível, a
falação dramatiza.
2. Superficialidade.
As
próprias características das mídias impõem a superficialidade. Como lembra
Santaella (1996) a cultura das mídias é a cultura do efêmero, do breve, do
descontínuo; é a cultura "dos eventos em oposição aos processos"
(p.36). Mas como a cultura das mídias caracteriza-se também pela interação
entre elas, a mesma notícia passa de uma mídia a outra, permitindo análises
mais aprofundadas nas revistas semanais e no jornalismo investigativo da TV por
assinatura, por exemplo. Idealmente, as mídias seriam intercomplementares (Santaella1996),
e a notícia da TV levaria o espectador ao jornal, daí à revista, etc. Mas quem
no Brasil lê jornais, revistas ou pode pagar por uma TV a cabo? Daí o receio
dos efeitos perniciosos que a televisão pode trazer a um país como o Brasil,
com baixo nível educacional, com uma grande massa de analfabetos e
semi-analfabetos, e que estão se expondo diretamente à cultura audiovisual das
mídias, sem a mediação anterior da cultura letrada.
3. Prevalência
dos interesses econômicos. A lógica das mídias, em última
instância, atende a interesses econômicos, entronizando na televisão os índices
de audiência, e criando assim um círculo vicioso: os produtores pressupõem o que
o público (que é visto como homogêneo) quer, e só lhe oferecem isso, portanto,
não podem saber se o público deseja outra coisa. Novidades aparecem, mas sempre
sobre os mesmos temas e sob as mesmas formas. Como não há opções, o público
reafirma a audiência das “fórmulas” tradicionais. Daí a mesmice da cobertura
futebolística, por exemplo. A pobreza de conteúdo na TV brasileira é cada vez
mais evidente, não obstante o artigo 221 da Constituição brasileira determinar
que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão deverão conceder
prioridade a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. De
uma perspectiva mais ampla, Walnice Nogueira Galvão, claramente inspirada no
conceito de “indústria cultural” da Escola de Frankfurt, refere-se ao
“fundamentalismo do mercado”, que faz imperar uma lógica perversa, a qual
privilegia o investimento em
ESPORTE
NA MÍDIA OU ESPORTE DA MÍDIA? – Mauro Bettti – Motrivivência (2002)
ATIVIDADE: Comente brevemente as 3 características do esporte na mídia, citadas acima.